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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

POESIA GOIANA
Organização de SALOMÃO SOUSA

 

 

 

ADOIRAMAS MARTINS SALGADO

 

pseudônimo:  “ Bem-te-vi “

 

Filha de José Martins do Amaral e de Maria Patrocínio de Jesus, ambos falecidos. Moravam numa fazenda próxima a Goianápolis.  José Martins era de tudo um pouco: sanfoneiro, fazedor de carros-de-boi, lavrador que conhecia e aproveitava as fases da lua, pescador, caçador, pedreiro, carpinteiro, serralheiro, oleiro. Também foi barbeiro, contador de causos e benzedor. “Nunca vi meus pais tristes”, diz Adoiramas “Estavam sempre sorrindo e brincando.
Minha linda e bela mãezinha era alegre, cantava o dia todo”. Lembra a filha Maria Patrocínia, tricotava e fazia crochê, fiava, costurava, fazia azeite pra lamparina e o pavio pra acender. Ela faleceu quando Adoiramas tinha apenas seis anos, deixando a menina e mais seis filhos. Com a morte da mãe, Adoiramas tornou-se uma criança triste, e a vida foi muito difícil par ao pai com os filhos pequenos.
Em solteira, era Adoiramas Martins do Amaral; após o casamento, a poetisa passa a assinar Salgado. Também é conhecida pelos familiares como Dora. É muito requisitada para declamar em eventos culturais.

 

 

 

ANTOLOGIA EM VERSO E PROSA.  (Autores filiados à União Literária Anapolina). Organizado por Laurentina de Medeiros, Natalina Fernandes e Henrique Mendonça.  Capa: Julio Alan. Prefácio: Júlio Sebastião Alves.    Anápolis: ULA, 2005.  304 p.  14 x 21 cm.       Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

        Bem-te-vi

Numa tarde de verão
A passarada cantava
Anunciando a todos
A noite que chegava

Debaixo de um arvoredo
Muito triste eu me escondi
Quando ouvi ao meu ouvido
O canto do bem-te-vi

Ele cantava pra mim:
Não fica triste, sorri
Por ver a sua tristeza
Chamam-me de bem-te-vi

Bem que eu vi (bis)
Mas nunca posso contar
O passado de um poeta
Que vive a declamar

Canta, canta comigo
Uma canção de louvor
E nós dois juntos cantamos
Um hino ao Criador

             Depois ele foi cantando
Bem que eu vi, bem que eu vi!
Meu coração alegrou-se
E comecei a sorrir...

 

       Lá na mata a passarada
Foi cantando até sumir
Não pensei que alegrasse tanto
O canto de um bem-te-vi

Ao fazer estes versinhos
Muita coisa eu aprendi,
Eu aprendi a cantar
Como canta o bem-te-vi.

 

 

 

                  (1975 – 04:00 da madrugada)

 

 

 

         Primavera

Setembro, chegou a primavera
Linda manhã de primavera
Sol brilhante, luz prateada
Lindas são as noites,
Fria a madrugada.

É primavera, lindas são as flores
Encanto da natureza
Águas cristalinas, em volta as cachoeiras
Noite cheia de estrelas...

 

       Lindas trepadeiras
Enfeites de arraiais
Andorinhas em bandos
No fundo dos quintais...
Pela madrugada, obrigada, Senhor!

É primavera, linda são as flores
Mágoas passadas
Trazem dissabores
Primavera é encanto, beleza
Brisa suave, noite de amor

Borboletas, pássaros e aves
Árvores frondosas
Formando manto
Lindas cachoeiras
Derramando pranto...

Primavera merece consideração
Lindas são as flores
Rosas, cravos, lírios, margaridas
Árvores floridas, todo tipo de flor
Obrigada, Senhor.

 

 

 

              (Anápolis, 10 de setembro de 1980)

 

 

       Sem-terra

Quase tudo que acontece
Eu tiro o meu proveito
Sem fazenda não é nada
Sem-terra que ter direito

Sem preso um advogado
Não tira o seu ganha-pão
Cem presos em uma cela
Forma super lotação

Sem saúde e sem dinheiro
Sem emprego e sem profissão
Sem Jesus ninguém se salva
Do mundo da perdição

Um cachorro sem o rabo
Não passa numa pinguela
Um carro sem combustível
Desce logo na banguela

Sem um pedaço de terra
Sem emprego e sem profissão
Sem Jesus também não vai
Volta pra pedir perdão

O sem-terra, sem pensar,
Não apensou no seu presente
Sem pensar no seu futuro
Hoje quer terra da gente

Sem querer falar falei
Não é do meu parecer
Cem pauladas na moleira
Sem-terra tem que correr

Sem-terra não é ninguém
É um grupo moribundo
Sem vergonha, sem caráter
Vai trabalhar, vagabundo!

Eu acho muito bonito
O peixinho no aquário
Cem vezes mais falou Jesus
Para o grande milionário

Sem pensar nas consequências
Cem soldados vão à guerra
Cem cacetes têm valor
Na cabeça do sem-terra

Sem passado, sem presente
Sem o couro no curtume
Sem destino também voa
O pobre do vaga-lume

Pois sem querer querendo
No decorrer deste dia
Sem o cacete no sem-terra
E cem na minha poesia.

 

 

 

*

 

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Página publicada em junho de 2021


 

 

 
 
 
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